segunda-feira, 17 de julho de 2017

Crítica - De Canção em Canção

Análise De Canção em Canção


Review De Canção em Canção
Depois do maravilhoso A Árvore da Vida (2011), o diretor Terrence Malick parece ter se reduzido a uma paródia de si mesmo, transformando seu estilo de narrativa em uma série de cacoetes a serem repetidos exaustivamente mesmo que ele não tenha muito o que fazer ou dizer com eles. Já tinha acontecido no pretensioso e vazio Amor Pleno (2012) e no intragável Cavaleiro de Copas (2015). O trailer deste De Canção em Canção dava a impressão que talvez o diretor fosse retornar à boa forma de antes, mas o resultado apenas sedimenta sua fixação por meramente repetir aqueles maneirismos que a essa altura já cansaram.

A trama gira em torno do "quadrado" amoroso envolvendo o produtor musical Cook (Michael Fassbender), o músico BV (Ryan Gosling), a aspirante a cantora Faye (Rooney Mara) e a professora Rhonda (Natalie Portman), mostrando as idas e vindas nos relacionamentos entre esses personagens. Se você conhece o cinema de Malick, no entanto, sabe que a trama em si é o que menos importa nos filmes do diretor, já que o interesse dele é mais produzir provocações e ponderações sobre a natureza das relações humanas (nesse filme mais sobre namoros e relações afetivas) do que contar uma história.

Tudo é estruturado de maneira bem semelhante aos filmes mais recentes do diretor, com uma montagem fragmentada e rápida, quase que chamando atenção para sua própria artificialidade, sobrepondo esses fragmentos de imagens com narrações dos próprios personagens, dando a impressão que estamos vendo o fluxo de consciência daquelas pessoas como se aquelas imagens e frases seguissem o raciocínio deles e como eles veem e lembram dos eventos.

Apesar da montagem chamar atenção para seus próprios artifícios, a câmera de Malick tende a filmar seus personagens de maneira bastante naturalista, quase como se nos colocasse como espectadores de um cotidiano real. O elenco é particularmente eficiente em transmitir esse naturalismo, exibindo uma boa química entre si e através de suas atuações transmitem muitos dados sobre seus personagens que a narrativa não dá diretamente. Além disso Ryan Gosling faz valer as aulas de piano que tomou para fazer La La Land: Cantando Estações (2017) ao aparecer tocando em várias cenas.

A questão é que diferente da complexa relação do homem com a criação retratada em A Árvore da Vida ou do homem com a guerra em Além da Linha Vermelha (1998), o que Malick tem a dizer sobre relações afetivas e como elas são difíceis, incoerentes e buscamos no outro algo que nos falta não é suficiente para sustentar as mais de duas horas de filme. Antes mesmo que chegue à marca de uma hora já é possível depreender o que o cineasta tem a dizer e a partir daí o filme passa a correr atrás do próprio rabo e repete declaração atrás de declaração sobre a incompletude do homem e como procuramos um sentimento que seja real e nos dê propósito. Toda vez que você pensa que ele já disse isso de todas as maneiras possíveis, o filme consegue te surpreender e acha mais outras formas de continuar reiterando significados que você cansou de saber ao ponto que eu temi que o filme simplesmente nunca fosse acabar.

Tudo isso é piorado pela natureza excessivamente expositiva das narrações dos personagens que mastigam de maneira bem óbvia aquilo que o filme tenta dizer e ocasionalmente chegando ao cúmulo de descrever aquilo que é claramente possível ver através das imagens. Deste modo, o filme acaba se tornando um insuportável exercício de paciência.

Ainda há uma tentativa de tecer uma crítica ao meio do entretenimento, especialmente a música, que é foco do filme. Há um discurso sobre como toda aquela fama, dinheiro e extravagâncias não passa de uma performance feita para vender um ideal de sucesso e felicidade que é simplesmente falso e encenado e que reduz as pessoas a produtos ou meros atos performáticos. É uma ideia que poderia render algo interessante, mas assim como o discurso sobre relações amorosas é desperdiçada (assim como a participação de músicos como Iggy Pop e os integrantes do Red Hot Chilli Peppers, todos interpretando a si mesmos) ao simplesmente ficar batendo nas mesmas ideias do início ao fim sem a sensação de que o raciocínio desenvolvido está indo a algum lugar.

Como de costume na filmografia de Malick, as imagens da natureza são uma presença constante no filme. Filmada com reverência, majestade e uma certa dose de encantamento e mistério, a natureza parece ser para Malick o caminho para ser humano alcançar sua plenitude e equilíbrio em sua vida. Através da comunhão e do contato com a natureza as pessoas são capazes de se lembrarem da sua essência e compreender o que lhes é importante. A questão é que o diretor já disse tudo isso (e melhor) em trabalhos anteriores como os já citados Além da Linha Vermelha, A Árvore da Vida ou mesmo O Novo Mundo (2005). Sim, há um inegável valor lírico e estético nas imagens construídas pelo filme, mas não é o suficiente para afastar a sensação de que o filme não tem nada a dizer sobre elas além de reiterar ideias manjadas.

Cansativo, redundante e raso ao explorar os temas propostos, De Canção em Canção mostra que Terrence Malick parece, a despeito da beleza plástica de suas imagens, ter se tornado refém de seus próprios maneirismos


Nota: 5/10

Trailer

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