domingo, 24 de novembro de 2013

Crítica – Batman: Arkham Origins



O game Batman: Arkham Asylum foi um marco nos jogos baseados em super-heróis, nunca um produto do gênero tinha sido tão competente em transmitir ao jogador a sensação de controlar um personagem tão cheio de habilidades e recursos como o Batman. O jogo acertava ao abordar com competência as principais abordagens ao personagem: seu lado lutador se fazia presente através de um fluido e veloz sistema de combate baseado em ataque e contra-ataque, seu lado furtivo era sentido no modo como era possível explorar o ambiente pendurando-se em gárgulas e andando sob grades no chão para pegar os inimigos de surpresa, deixando-os com medo e, além disso, seu lado investigador se fazia presente pelas pequenas investigações e análises de evidências necessárias para seguir em frente em determinados momentos.

A sequência, Batman: Arkham City, pegava todos esses elementos e os expandia, colocando o Batman em um amplo cenário aberto cheio de missões secundárias, novos movimentos e novos equipamentos, além de uma história tão competente quanto a anterior que trazia um final bombástico. Assim sendo, foi um pouco decepcionante quando foi anunciado que o próximo game do homem-morcego não contaria com o roteirista Paul Dini (responsável pelo excelente Batman: A Série Animada nos anos 90), nem iria lidar com as consequências do final de Arkham City, mas recontaria os primeiros anos do vigilante e seus primeiros encontros com super-criminosos. Mais preocupante foi o anúncio de que o novo game não seria desenvolvido pela Rocksteady, responsável pelos anteriores, mas pela novata WB Games Montreal, elevando os temores de que este terceiro game na série poderia não ter uma jogabilidade tão afiada quanto os anteriores.


Esses temores, no entanto, revelaram-se infundados, já que a nova desenvolvedora manteve todas as mecânicas dos games anteriores e todas elas continuam funcionando muito bem, do combate aos cenários furtivos, passando pela exploração e o grande número de missões secundárias. O problema, no entanto, é que a WB Games Montreal se preocupou tanto em manter tudo familiar e sem alterações que o jogo possui aquele sentimento incômodo de que já vimos tudo isso antes. Em termos de combate, por exemplo, não há nada efetivamente novo, continuamos construindo combos e contra-atacando com extrema fluidez e velocidade, mas não há uma nova mecânica ou técnica sequer para trazer frescor à experiência.

Alguns novos inimigos ajudam a trazer um pouco mais de variedade, como o artista marcial que é capaz de contra-atacar seus contra-ataques, obrigando o jogador a ser mais rápido e mais atento, embora nunca pose uma mudança muito brusca para quem dominou o sistema de lutas dos games anteriores. Os embates com chefões, no entanto, continuam sendo um ponto alto, sendo interessantes e desafiadores, além de obrigar o jogador a realmente dominar as habilidades do homem-morcego para ser bem sucedido, o ponto alto disto talvez sejam as lutas com o Exterminador (que exige domínio e timing dos ataques e contra-ataques) e com o Vagalume (no qual é necessário combinar o uso de diferentes acessórios).

Os novos aparelhos também pouco acrescentam de novidade, já que seu funcionamento é idêntico aos de equipamentos de jogos anteriores. A granada adesiva serve à mesma função que o explosivo congelante do game anterior, a arma anuladora é completamente igual ao dispositivo disruptor de Arkham City e a tão alardeada garra remota tem muito do lançador de arpéu, com a diferença que pode ser usada em combate para prender inimigos e objetos. Talvez o único dispositivo realmente novo sejam as luvas de choque, que permitem o Batman atacar diretamente inimigos blindados (sem precisar atordoá-los com a capa) e portando escudos, além de permitir que ele possa contra-atacar golpes com bastões eletrificados, algo que era impossível nos outros jogos. Assim sendo, o equipamento serve apenas para simplificar e facilitar o combate, sem nunca chegar a modificá-lo ou transformá-lo, alguns inclusive podem argumentar que desequilibra o combate ao eliminar e ignorar parte dos obstáculos pretendidos.

Os únicos dois elementos realmente novos são as mecânicas intituladas “Crime em Progresso” e as missões de análise de cena de crime. O Crime em Progresso, como o nome diz, são missões aleatórias que surgem de tempos em tempos pedindo ao Batman que impeça um crime que está acontecendo nas proximidades, consistindo basicamente em enfrentar um grande número de bandidos com armas e equipamentos um pouco melhores do que aqueles encontrados vagando pelo mapa. Impedir esses crimes é recompensado com um bônus de experiência (assim como todas as outras missões e objetivos) que é usada para subir o nível do personagem e aprender novas habilidades.

A análise de cena de crime são missões nas quais o Batman usa seu visor de detetive para analisar pistas e reconstituir crimes de modo a encontrar os culpados. Cada nova pista permite visualizar como o crime se deu, como uma espécie de vídeo ao vivo no qual o jogador pode avançar e retroceder os acontecimentos para encontrar novos indícios até entender por completo tudo que aconteceu. A ideia é ótima e podia render desafios mentais bastante intricados, mas infelizmente é tudo bastante simples e linear, bastando acompanhar as setas vermelhas no visor para chegar à próxima pista sem muito esforço de pensar ou de explorar o ambiente. Já que falei em exploração, o mapa tem o dobro do tamanho em relação a Arkham City, mas muito dele (a parte norte de Gotham) é reciclado do game anterior. Ainda assim, há muito a se fazer, como coletar os pacotes de dados do Charada (que ainda não usa este nome aqui), analisar as pichações no Anarquia, além várias outras missões secundárias que envolvem vilões como o Pinguim e o Chapeileiro Maluco.

A narrativa continua fazendo jus à qualidade da série ao recontar o segundo ano do Batman como vigilante e remete a elementos de histórias famosas como Batman: Ano Um, O Longo Dia das Bruxas, A Piada Mortal, O Homem que Ri, entre outras. A trama se passa na noite de Natal (um modo para justificar as ruas vazias) quando o mafioso Máscara Negra, farto de ter seus planos frustrados pelo Batman, traz à cidade oito super assassinos para eliminá-lo, marcando assim o primeiro encontro do jovem vigilante com figuras como o Pistoleiro, Bane e a Cobra Venenosa (Copperhead). Ao mesmo tempo, uma nova ameaça paira no ar com a chegada do misterioso criminoso conhecido apenas como o Coringa, nos revelando as primeiras interações entre o Batman e o palhaço do crime.

Além da trama principal, o game também conta com uma série de mapas de desafio que trazem segmentos de combate e furtividade da mesma forma que os games anteriores. A nova adição, no entanto, é o multiplayer online. As partidas online juntam oito jogadores que se dividem em três times, dois com três jogadores e um com dois. Os dois times de três jogam como criminosos de guanges rivais (as gangues do Bane e do Coringa) e precisam eliminar os jogadores do time rival um determinado número de vezes para vencer a partida, tomar pontos de controle espalhados pelo cenário ajuda a facilitar o processo. Já a dupla restante controla Batman e Robin e precisa nocautear os bandidos dos dois times de modo a encher sua barra de intimidação, quando a barra atinge os 100% os bandidos se apavoram e fogem, garantindo a vitória da dupla dinâmica.

Controlando um criminoso, o jogador é colocado em um jogo de tiro em terceira pessoa bastante convencional, vemos o personagem de costas, caminhamos, atiramos, nos escondemos sob coberturas, e eliminamos os outros jogadores nada de novo aqui, mas é tudo funcional e bem executado, nunca soando desconjuntado ou frustrante. A novidade na experiência é que além de nos preocuparmos com os tiros do outro time, temos de prestar atenção em Batman e Robin se esgueirando nas sombras, nos atacando de pontos de observação no alto ou surgindo de grades no chão. Assim o jogador é estimulado a ficar sempre atento e em uma constante tensão, já que a ameaça pode surgir de qualquer lugar e te pegar de surpresa. Jogar com os dois super-heróis funciona igual aos modos de um jogar, mas aqui há uma maior sensação de empoderamento, já que estamos lidando com jogadores de verdade, que realmente prestam atenção e se adequam às suas ações, sendo necessária bastante versatilidade e habilidade para se esgueirar despercebido diante dos outros jogadores.

Ao final de cada partida todos ganham experiência e a cada novo nível são habilitadas novas armas, habilidades e roupas para customizar os personagens. Os jogadores também recebem dinheiro para comprar pacotes de equipamentos que trazem também novas vestimentas e itens.

O problema do multiplayer, no entanto, é a repetição. Com apenas um modo de jogo não há muita variação nas partidas e o mesmo pode ser dito do cenário, já que são apenas quatro e nenhum deles tem um design muito dinâmico ao ponto de dotar cada um de possibilidades estratégicas singulares. Outro problema é a dificuldade em encontrar partidas e o tempo enorme que leva para conseguir juntar oito jogadores no lobby virtual para começar uma partida, transformando a experiência em um exercício de paciência. A paciência é testada ainda com os constantes problemas de servidores (pelo menos no PS3, no qual joguei este jogo), que estão constantemente indisponíveis além das muitas quedas de serviço que ocorrem no meio das partidas. Assim sendo, muitas vezes tive a sensação de estar jogando uma espécie de versão beta do multiplayer, já que tudo é muito simples e sem polimento, espero que a WB Montreal corrija isso futuramente via patches, melhorando os servidores e adicionando novos modos e objetivos ao multiplayer. O modo era bastante promissor, mas ainda não alcança todo seu potencial.


No final das contas, este Batman: Arkham Origins acaba sendo mais do mesmo, tenta inovar através de seu multiplayer com uma proposta diferenciada, mas acaba faltando-lhe polimento. No entanto, repete elementos que são tão competentes e bem construídos que ainda assim acaba valendo a experiência.


Nota: 7/10 


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