domingo, 13 de novembro de 2016

Crítica - A Cidade Onde Envelheço

Análise A Cidade Onde Envelheço


Review A Cidade Onde EnvelheçoQuando se viaja para outro país é inevitável não sentir as diferenças de cultura, comportamento e vivências, assim como também o é a saudade do lugar que se deixou para trás. Diante desse sentimento de estar em um ambiente ao qual "não pertencemos", como é que o transformamos em lar? Como é esse processo no qual um lugar que tão externo a si se torna parte de si? São essas perguntas que este A Cidade Onde Envelheço tenta explorar.

Teresa (Elizabete Francisca Santos) é uma jovem portuguesa que decide vir para o Brasil e vai morar com a amiga, também portuguesa, Francisca (Francisca Manuel) em Belo Horizonte. Francisca tem receio em abrigá-la por apreciar morar sozinha, mas os modos expansivos e cheios de energia da amiga a contagiam e elas formam um laço conforme tentam desenvolver suas relações de pertencimento (ou não) com aquela cidade.

Chama a atenção o naturalismo do filme e a impressão de que não estamos vendo personagens ou situações encenadas, mas pessoas reais, errantes pela vida, e seu cotidiano. Não nos sentimos espectadores, mas colegas de quarto de Teresa e Francisca vivenciando suas experiências ao lado delas. Uma sensação que remete aos trabalhos do também mineiro André Novais e o seu Ela Volta na Quinta (2014).

Não há exatamente uma trama com conflito bem delineado ou obstáculo a ser superado (e não há problema nenhum nisso), apenas vamos acompanhando as experiências das duas com a cidade e as pessoas que nela habitam e como um vínculo e sensação de pertencimento, bem como ocasionais estranhezas, vão nascendo das pequenas e cotidianas coisas, como a observação que Francisca faz sobre os banheiros brasileiros misturarem diferentes tipos de azulejos.

A atriz portuguesa Elizabete Francisca Santos é magnética e adorável como Teresa, sempre cheia de vida e com uma observação sagaz na ponta língua, ela responsável pelos momentos mais divertidos do longa. Sua personalidade espevitada funciona de maneira bastante orgânica ao lado da personalidade mais contemplativa e melancólica de Francisca e o filme transita com bastante sensibilidade entre esses dois estados de espírito.

A Cidade Onde Envelheço acaba se mostrando um delicado e agridoce estudo sobre como nos relacionamos com as cidades e os vínculos e rupturas que construímos em nossas vivências nela.


Nota: 8/10

Esse texto faz parte de nossa cobertura do XII Panorama Internacional Coisa de Cinema

Trailer:

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