segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Crítica - O Homem nas Trevas

O Homem nas Trevas


Um grupo de pessoas se vê confinada em um ambiente fechado com um predador feroz que não irá parar até que todos estejam mortos. O predador em questão é cego, mas tem sentidos aguçados que fazem o mais leve barulho ser uma sentença de morte. Essa é a premissa de Alien: O Oitavo Passageiro (1979), mas cabe perfeitamente neste O Homem nas Trevas, substituindo o xenomorfo por um ex-militar cego.

A trama acompanha um grupo de jovens, Rocky (Jane Levy), Alex (Dylan Minnette) e Money (Daniel Zovatto), que vive de pequenos roubos. A sorte deles está para mudar quando eles encontram a oportunidade do típico "assalto definitivo" ao ouvirem falar na história de um homem cego (Stephen Lang) que mora sozinho em uma casa localizada em um bairro decrépito e abandonado da falida Detroit. Chegando na casa, o trio descobre que o homem cego não é tão indefeso quanto parece e passam de algozes a vítimas quando se veem presos dentro do imóvel.

Além da premissa familiar, os personagens também são bastante apoiados em clichês. Do bandido pé de chinelo que se acha mais esperto e valente do realmente é, passando pelo mocinha de vida difícil que tenta juntar dinheiro para fugir de seu cotidiano ruim, passando pelo rapaz bem intencionado que só quer ajudar a mocinha. Apesar de básicos, acabamos aderindo aos personagens pela habilidade da trama em brincar com as nossas simpatias. Mesmo que Rocky tenha suas razões para ser criminosa e Alex tenha um relativo código de honra, eles são claramente criminosos tentando tirar vantagem de um deficiente. Assim, inicialmente podemos aderir ao homem cego, já que ele está apenas dando o troco nos ladrões, aos poucos vamos descobrindo coisas cada vez mais tenebrosas sobre o cego e fica difícil não ter simpatia pelo que os personagens sofrem nas mãos desse predador implacável.

O cego, por sinal, se mostra quase que como uma criatura. Beneficiando por uma entrega animalesca da performance de Stephen Lang, ele fala muito pouco e passa boa parte do tempo urrando e grunhindo como um bicho, socando violentamente a parede quando percebe que cometeu algum erro. A ausência de um nome também contribui para tirar-lhe parte da humanidade, nos levando a vê-lo mais como uma coisa do que como uma pessoa, dando a maior impressão de que ele é um monstro irrefreável.

A condução de Fede Alvarez, responsável pela nova versão de A Morte do Demônio (2013), é bastante eficiente em criar momentos de tensão, colocando os personagens para se encolherem em cantos ou se esconderem em armários tentando não fazer barulho para chamar a atenção do cego. São momentos que duram alguns segundos, mas são tão tensos que parecem uma agonia sem fim. O diretor também é bem sucedido em criar um senso claro e coeso de espacialidade, tornando fácil que o espectador se localize dentro da casa. Isso acontece principalmente no longo plano feito para dar a impressão de não haver cortes no qual a câmera acompanha os três personagens conforme eles exploram a casa.

A fotografia também contribui para a ambientação, construindo uma atmosfera macabra tomada por sombras, mas que jamais se torna incompreensível apesar de toda escuridão. Uma das cenas mais tensas é justamente quando o cego desliga os disjuntores do porão e os personagens tateiam pelo escuro sem saber o que está diante deles, sendo que nós percebemos o perigo se aproximar. O filme também não economiza na violência, trazendo alguns momentos recheados de sangue e brutalidade que são realmente impactantes.

Assim sendo, a despeito de sua natureza familar, O Homem nas Trevas é esperto o bastante para oferecer reviravoltas que nos deixam à beira do assento, sendo extremamente hábil em criar momentos de medo, tensão e violência.


Nota: 7/10

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