terça-feira, 17 de maio de 2016

Crítica - X-Men: Apocalipse



X-Men: Primeira Classe (2011), conseguiu trazer de volta o prestígio dos mutantes da Marvel no cinema depois do decepcionante X-Men: O Confronto Final (2006). Em seguida X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014) ligou as duas cronologias e retificou alguns problemas de continuidade com certa competência, embora não tenha agregado nada de novo. Assim chegamos a este X-Men: Apocalipse, que é provavelmente o mais fraco da nova trilogia embora não chegue a ser exatamente ruim.

Dez anos se passaram desde que Mística (Jennifer Lawrence) impediu que Magneto (Michael Fassbender) assassinasse o presidente dos Estados Unidos e humanos e mutantes vivem em aparente paz. Magneto agora vive uma vida pacata com a esposa e a filha, Xavier (James McAvoy) finalmente colocou sua escola para funcionar, tentando ajudar jovens mutantes a compreenderem sua condição, e Mística viaja pelo mundo tentando ajudar os mutantes que encontra pelo caminho. Tudo muda, no entanto, quando o poderoso Apocalipse (Oscar Isaac, o Poe Dameron de Star Wars: O Despertar da Força) é acordado de seu sono de milênios e desperta disposto a destruir a humanidade.

Apesar de se passar nos anos oitenta, a época tem pouco ou nenhum peso na trama a parte de algumas referências à cultura pop e nos figurinos dos personagens. Se os filmes anteriores exploraram seus respectivos momentos históricos ao colocarem os mutantes para tomar parte em eventos como a Crise dos Mísseis em Cuba ou a Guerra do Vietnã, o contexto oitentista não é explorado pelo roteiro. Isso soa como uma oportunidade desperdiçada, já que ele poderia se passar em qualquer época que não faria nenhuma diferença.

Outra questão é que todo o debate sobre preconceito, intolerância, exclusão e inserção social que era o elemento mais marcante da franquia é praticamente deixado de lado em prol da ação. A relação entre Xavier e Magneto, por exemplo, não apenas era o que personificava esses debates, mas também eram o centro da maioria dos filmes dos mutantes. Aqui, no entanto, eles mal conversam entre si. O que é uma pena, já que tanto Fassbender quanto McAvoy continuam ótimos em seus respectivos papeis.

Há uma cena no início com Xavier em sala de aula que mostra muito bem o professor sábio e cativante que ele é. Do mesmo modo, a cena de Magneto na floresta mostra toda a dor e desamparo do personagem, tanto que ele sequer sente qualquer ponta de satisfação ou alegria ao matar os policiais. A conversa telepática entre os dois acaba sendo um dos poucos momentos realmente eficientes em termos dramáticos, assim como o diálogo dos dois ao final, que reconstrói uma conversa dos dois personagens na primeira trilogia (quando foram interpretados por Patrick Stewart e Ian McKellen). Igualmente bem sucedida é a cena em que Xavier devolve a Moira (Rose Byrne) suas memórias de eventos passados, revelando o afeto que sentem um pelo outro.

A relação entre eles e Mística, um elemento que vinha sendo central nesta nova trilogia, também é explorada superficialmente, com a mutante tendo apenas uma cena com cada um deles, o que é muito pouco para trabalhar a dinâmica complexa que se estabeleceu entre eles nos últimos filmes. A relação entre ela e o Fera (Nicholas Hoult) que tinha acontecido em X-Men: Primeira Classe é mencionada brevemente aqui, mas não vai muito além de evidenciar que o Fera ainda sente alguma coisa por Mística e um sutil indicativo de seu ciúme por Magneto.

Falando em Mística, incomoda que ela passe boa parte do filme com aparência humana, já que seu arco nos filmes anteriores era justamente o de não ter ver vergonha de ser quem é. Tudo bem que o filme até tenta justificar isso, mas a explicação não convence. Principalmente porque os motivos para isso são mais extra fílmicos do que narrativos, afinal Jennifer Lawrence se tornou uma mega estrela e o estúdio certamente quer explorar ao máximo sua imagem, ao mesmo tempo que seu atual status lhe dá poder de barganha suficiente para exigir que ela passe menos tempo com a pesada e complexa maquiagem da personagem. Então é meio que do interesse de ambos que ela passe uma parte considerável de seu tempo de tela com o rosto à mostra ao invés de escondê-lo sob a maquiagem de Mística.

Muito disso é deixado de lado para que o filme possa introduzir os novos membros da equipe, Ciclope (Tye Sheridan), Jean (Sophie Turner, a Sansa de Game of Thrones) e Noturno (Kodi Smit-McPhee). Os novos personagens são carismáticos e tem uma boa química juntos e a trama trabalha relativamente bem o romance entre Jean e Ciclope, nos deixando ver os motivos pelos quais eles se sentem atraídos um pelo outro. Os acólitos de Apocalipse, por outro lado, não tem a mesma sorte. Anjo (Ben Hardy) e Psylocke (Olivia Munn) tem pouco a fazer além de participarem de algumas cenas de ação, enquanto que Tempestade (Alexandra Shipp) tem um pouco mais de tempo, mas sua presença é pouco aproveitada.

Já o vilão Apocalipse é provavelmente o elo mais fraco do filme. Vazio em termos de personalidade e com um plano genérico de destruição global, ele jamais soa intimidante ou ameaçador como o filme quer que ele seja. Sua ideia de destruir tudo e criar um mundo dominado por mutantes liderados por ele soa incomodamente similar ao plano de Sebastian Shaw (Kevin Bacon) em X-Men: Primeira Classe. Além disso, apesar de falar em fazer um mundo melhor, o personagem jamais deixa claro o que quer exatamente fazer com o mundo depois de destruí-lo. Oscar Isaac tenta ao máximo conferir alguma gravidade ao personagem, mas é prejudicado por um roteiro que o faz dar um discurso maligno atrás do outro, quase ao ponto de torná-lo caricato ou algo saído de uma temporada antiga de Power Rangers (só faltou uma gargalhada maligna no fim de cada frase para chegar nesse nível).

Quem acaba roubando a cena (mais uma vez) é o enérgico e sagaz Mercúrio (Evan Peters), que protagoniza cenas de ação tão legais que as demais empalidecem em comparação. O personagem é tão bacana que é lamentável que o filme jamais cumpra sua promessa de aproximá-lo de Magneto, já que isso poderia trazer desenvolvimentos interessantes para os dois personagens e é curioso que o roteiro decida não explorar isso.

O clímax do filme traz uma destruição em larga escala, mas tudo acaba sendo esvaziado de impacto ou urgência, pois tudo é observado majoritariamente à distância, sem que sintamos realmente o peso de todas as vidas que foram perdidas ali. Sem mencionar que é muito estranho vermos os X-Men e os servos de Apocalipse lutarem em meio às ruas destruídas do Cairo sem que ninguém encontre nenhum civil nem ninguém entre os escombros. Como já foi dito, as cenas de ação são bem executadas e a batalha psíquica entre Xavier e Apocalipse é bem interessante, principalmente por ser a primeira vez que esse tipo de embate acontece nos filmes, embora bastante comum nos quadrinhos.

Assim sendo, X-Men: Apocalipse não consegue ser nada além de uma boa diversão, ainda que esquecível. Apesar das cenas de ação competentes e da introdução de heróis promissores, o filme enfraquece ao tratar de modo superficial os temas e personagens que tornavam a franquia tão interessante.

Nota: 5/10


Obs: Há uma cena adicional após os créditos.

Trailer


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