quinta-feira, 14 de abril de 2016

Crítica - Sinfonia da Necrópole


Análise Sinfonia da Necrópole

Review Sinfonia da Necrópole
O cinema brasileiro tem uma longa tradição na produção de filmes musicais, dos musicais carnavalescos e chanchadas dos primeiros anos do nosso cinema sonoro, passando pelos filmes da Jovem Guarda nos anos sessenta aos musicais do chamado BRock, que traziam músicas e artistas do rock nacional, nos anos oitenta. Nos últimos anos a produção musical se concentrou no filão das cinebiografias, como Gonzaga: De Pai Para Filho (2012) ou Tim Maia (2014), nos quais os números de canto e dança apareciam de modo mais "natural" através das apresentações dos artistas.

Exemplares "mais tradicionais" do gênero, nos quais os personagens começam a cantar e dançar "do nada" para uma melodia que não está ali, tem aparecido apenas em produções mais independentes como O Que Se Move (2013), que tinha um viés mais dramático ao se concentrar em pessoas lidando com tragédias pessoais, e neste Sinfonia da Necrópole, que abraça o lado mais cômico do musical, mas sem deixar de lidar com questões como nossa relação com a morte ou o processo de urbanização das nossas cidades.

A trama acompanha Deodato (Eduardo Gomes), um aprendiz de coveiro que tem dificuldade em se adaptar a sua nova profissão. Sua situação melhora um pouco com a chegada de Jaqueline (Luciana Paes) chega ao cemitério para fazer um levantamento das tumbas abandonadas para poder usar os espaços não utilizados para construir uma espécie de "cemitério vertical" já que não há mais terreno disponível para os mortos.

A trama é um comentário irreverente sobre a verticalização e gentrificação das cidades que cresce incessantemente e empurra para longe aqueles que se colocam no caminho de sua expansão, incluindo, neste caso, os mortos. Trata também da desumanização das relações e como pouco a pouco vamos transformando pessoas em "coisas" ou "objetos" dos quais podemos dispor como bem entendemos sem nos importarmos em como nossas ações refletem nos outros.

Como num musical tradicional, as canções servem para explicitar os sentimentos dos personagens e ajudam a desenvolver as relações entre eles e avançar a trama. Os números musicais são muitas vezes carregados de humor e irreverência, como no samba em que os coveiros falam sobre sua profissão ou no divertido momento em que Deodato canta Evidências de Chitãozinho e Xororó. Outros, no entanto, são mais introspectivos e servem para transparecer as angústias dos personagens como a canção de Deodato e Jaqueline dentro do carro.

As transições para a entrada das canções são bastante criativas, como o uso de gotas de chuva para denotar o início de uma melodia ou os movimentos com as pás dos coveiros servindo como instrumentos musicais. As canções originais do filme não são exatamente daquelas que ficam na sua cabeça depois da sessão e te dão vontade de cantar depois, mas funcionam bem no contexto da trama.

Assim sendo, Sinfonia da Necrópole é um musical divertido e bastante criativo sobre nossa relação com outras pessoas, com a morte e com as nossas cidades.

Nota:8/10

Trailer:

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