domingo, 17 de fevereiro de 2013

Crítica – A Hora Mais Escura

Os atentados de 11 de setembro mudaram os Estados Unidos, a superpotência que até então parecia inatingível foi ferida brutal e publicamente, já não podia mais ser vista como invencível e imune a ameaças. Parecia lógico, portanto, para esta nação que se considerava ferida perseguir o responsável como uma maneira de reparação, de fechar as feridas abertas, é exatamente sobre a busca por Osama Bin Laden que trata este A Hora Mais Escura.
O filme acompanha a jornada da agente Maya (Jessica Chastain) desde 2003 até os instantes ocorridos na casa do Paquistão onde Bin Laden foi abatido (e não, isso não é spoiler). O filme se mostra bastante didático em apresentar datas, locais e fatos de modo a reforçar que está retratando fatos reais. Contribui também para isso a divisão da narrativa em tópicos e a própria direção de Kathryn Bigelow que conduz a obra com uma objetividade quase que jornalística como se fosse um filme-reportagem.
É bom deixar claro, no entanto, que isso não significa que tudo que vemos tela ocorre tal qual a realidade, ainda estamos diante de uma obra de ficção, encenada, roteirizada e atuada. Muito bem atuada por sinal, a protagonista Jessica Chastain constrói muito bem a transformação da agente Maya que inicialmente apresenta-se incomodada com as práticas de interrogatório para, aos poucos, abrir mão de qualquer coisa e se alienar de qualquer humanidade em nome de sua obsessão em localizar de Bin Laden. É interessante inclusive como o filme usa sua protagonista feminina para chamar a atenção para o machismo que ainda existe nos locais de trabalho, principalmente na cena da reunião com o diretor da CIA onde Maya, a única mulher do recinto e a que mais conhece o assunto, é colocada para sentar em uma cadeira distante, próxima à parede, enquanto o resto da equipe senta-se à mesa e ao redor do diretor e todos conversam de costas para ela, ignorando sua presença até o momento em a agente se manifesta.

Em A Hora Mais Escura, a guerra contra o terrorismo não é travada por soldados em campos de batalha, mas por burocratas e agentes de inteligência em salas de reunião ou prisões secretas, torturando e humilhando presos para conseguir informação. É a dita guerra moderna, sem fisicalidade, reduzida a imagens via satélite enquanto os bombardeiros não-tripulados explodem instalações terroristas (e muitas vezes levando civis no processo), quase como se fosse um videogame ou apenas um procedimento burocrático.
Não há emoção envolvida porque praticamente não há contato humano envolvido, o importante é achar um alvo e eliminá-lo, como diz o agente interpretado por Mark Strong, não há maiores preocupações com ética, direitos civis e humanos ou mesmo baixas civis, há apenas o inimigo e ele deve ser obliterado por completo. Essa sensação é reforçada pela iluminação que investe em ambientes escuros e sombrios, além do uso de uma paleta de cores predominantemente frias que aumentam a impessoalidade das pessoas e espaços.
Depois do já conhecido e esperado desfecho na casa do Paquistão, o filme é inteligente e coerente o bastante para retornar à agente Maya e demonstrar que não há catarse na guerra, apenas violência e solidão. Não é possível extrair reparação a partir da morte de outro individuo, por pior que ele seja. No fim das contas, depois de toda violação de direitos e violência não há como se sentir melhor, não há nada de edificante nisso, nada que nos ajude a sermos pessoas melhores, há apenas a violência, a morte e a solidão.
Nota: 9/10

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