quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Crítica - A Grande Aposta



Famoso por dirigir algumas comédias com Will Ferrell como O Âncora (2004) e sua continuação Tudo Por Um Furo (2013), Adam McKay já tinha se aventurado a falar sobre a crise imobiliária nos Estados Unidos no divertido Os Outros Caras (2010), também com Will Ferrell. Se em Os Outros Caras o comportamento negligente e criminoso dos grandes bancos e agências financeiras era pano de fundo para uma trama policial cômica com ares de paródia de Máquina Mortífera (1987), neste A Grande Aposta, os absurdos que levaram ao estouro da bolha imobiliária estão no centro de tudo.

A trama baseada em fatos reais segue um grupo de investidores que descobre que o mercado imobiliário e as vendas de títulos de empréstimos são baseados em números inconsistentes que eventualmente levarão a economia para o buraco. Com isso, percebem uma oportunidade de faturar comprando títulos de seguro para receberem em caso das dívidas não serem pagas, o que representa um lucro potencial que passa da casa do bilhão.

O filme apresenta argumentos seguros para demonstrar como a situação era insustentável, mas ninguém percebeu por estarem ocupados ganhando dinheiro fácil, creditando a crise a um misto de burrice e mau caratismo. Também não economiza em demonstrar como cada setor da sociedade possui sua parcela de culpa pelo que aconteceu, dos bancos às autoridades e também os cidadãos que consumiam e pegavam empréstimos que sabiam que não poderiam pagar.

É uma situação absurda e completamente surreal que McKay explora com maestria ao desnudar os termos técnicos que não significam absolutamente nada e são completamente arbitrários ou nas situações insólitas que isso gera. A maioria delas envolve o analista financeiro Mark Baum (Steve Carell) vai a um bar de strip conversar com as dançarinas sobre a liquidez de seus empréstimos ou o momento em que ele conversa com um executivo de banco (Byron Mann, o Ryu de Street Fighter: A Batalha Final, que surpreendentemente ainda tem uma carreira) e descobre que existem mais títulos de dívida imobiliária circulando do que existem empréstimos, tornando óbvio o quanto aquele modelo econômico é insustentável. A expressão de raiva misturada com espanto na face de Carell nesse momento é simplesmente impagável.

Aliás, o modo como o filme usa a câmera parece ressaltar a todo momento essa sensação de espanto, confusão e de incerteza. A câmera está sempre tentando ajustar os enquadramentos e movendo o zoom para frente e para trás, como se estivesse incrivelmente perdida com tudo que acontece. Em um dado momento o investidor Mike (Christian Bale) é confrontado pelo chefe e começa a listar os argumentos que baseiam sua crença no colapso do mercado e imediatamente a câmera começa a focar em livros sobre liberalismo econômico

A condução de McKay ainda brinca com a quantidade de absurdos que ocorreram ao colocar os personagens para falar diretamente com o público confirmando a veracidade das coisas ou eventualmente sinalizando que não foi bem daquele jeito e que precisaram tomar alguns atalhos narrativos para manter a trama andando, o que reforça a natureza cômica dos acontecimentos. Acerta também no modo como transmite as complexas informações do mundo bancário, sendo didático sem jamais soar enfadonho, principalmente quando investe em interlúdios nonsense do tipo: "para explicar isso, chamamos a atriz Margot Robbie, tomando champagne nua em uma banheira de espuma". Essas cenas, além de tentar fazer sentido (e graça) do labirinto de terminologias impenetráveis criadas apenas para confundir a população também esculhamba o próprio déficit de atenção do público, quase como se McKay dissesse para nós "eu sei que você não dá a mínima para economia, mas deveria, então vou balançar essa gostosa na sua frente para garantir sua atenção".  

Outra decisão inteligente é o que filme nunca esquece das consequências severas da crise sobre milhões de pessoas nos Estados Unidos e no mundo, evitando encerrar com a sensação de final feliz que poderia vir pelo fatos dos protagonistas finalmente provarem que tinham razão ou por terem ficado podres de ricos. Ao invés disso, encerra em um tom melancólico, reconhecendo que não há catarse no acerto dos personagens e que não houve nenhum tipo de vitória genuína, pois apesar de terem ficado ricos e provado falhas no sistema, tudo continuou igual e os banqueiros ficaram ainda mais ricos enquanto que a população ficou miserável e pagando conta (já que o governo usou dinheiro público para salvar os bancos).

O elenco é uniformemente competente. Do investidor viciado em heavy metal e socialmente inadequado interpretado por Christian Bale ao analista em crise de consciência vivido por Carell. O Mark de Carell funciona como a consciência do filme, apontando (com muita propriedade por sinal) como a ganância coletiva dos Estados Unidos provocou essa situação, lamentando inclusive sua conduta passada, como na cena em que lamenta que sua primeira reação ao ouvir o irmão depressivo falar como se sentia foi oferecer-lhe dinheiro. Ryan Gosling empresta seu charme e carisma a um banqueiro assumidamente safado, que apenas quer faturar em cima da queda do mercado, e suas narrações contem algumas das falas mais engraçadas do longa. Completando o amplo time ainda temos Brad Pitt como um paranoico e desencantado ex-corretor de Wall Street.

Assim sendo, A Grande Aposta é um divertido e esclarecedor deboche sobre o surreal mundo da especulação imobiliária, mas sem esquecer das sérias e reais consequências do absurdo que retrata.

Nota: 9/10

Trailer:
 

Um comentário:

Unknown disse...

Sua historia é das mais interessantes que tem e algo que eu gosto muito são as adaptações dos livros. O filme A grande aposta me manteve tensa todo o momento, se ainda não a viram. Pessoalmente eu acho que é um filme que nos prende por que a historia está bem estruturada, o final é o melhor. O rtimo e bom e consegue nos prender desde o principio, me meanteve tenso todo momento. Me suerpreendi quando vi do ator Ryan Gosling, ele e un ator muito talentoso, tem muita empatia com os seus personagens em cada uma dos trabalhos. Recentemente vi seu novo filme Blade Runner 2049 e adorei, por que e que ele seja o protagonista de um filme automaticamente leva ao êxito.