quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Crítica - Nocaute


Filmes sobre boxe já estão mais do que manjados no cinema hollywoodiano e ainda assim continuam sendo feitos e continuam a atrair a atenção de público e crítica de Rocky: Um Lutador (1976) a O Vencedor (2010). Este Nocaute talvez não seja indicado a prêmios como os dois citados (exceto, talvez, pelo trabalho de Jake Gyllenhaal), mas certamente é uma obra competente, embora vejamos claramente que ele parece inspirado por vários filmes similares.

Parte Rocky, parte Touro Indomável (1980) e parte Menina de Ouro (2004), Nocaute acompanha o boxeador Billy Hope (Jake Gyllenhaal), um homem de origem pobre e temperamento esquentado que ascendeu no esporte graças a sua resistência, já que é adepto da "técnica Rocky" de apanhar dos adversários para cansá-los e depois finalizar rapidamente a luta. O sucesso de Billy é interrompido quando uma tragédia se abate sobre sua família e então ele se perde em uma espiral de raiva e autodestruição que lhe custa tudo. Sem ter o que fazer, retorna ao bairro pobre no qual cresceu em busca do treinador Tick Wills (Forrest Whitaker), que pode lhe colocar de volta nos eixos.


É uma história tradicional de superação, mas funciona principalmente pela entrega de Gyllenhaal no papel, não apenas pela sua transformação física, mas pela intensidade que traz ao personagem, um homem que não sabe fazer outra coisa senão lutar, mas que é claramente imaturo, impulsivo e, sob certo aspecto, limitado intelectual e emocionalmente, relegando a sua esposa (Rachel McAdams) todas as suas decisões importantes e tendo ela como centro de sua vida. Billy não é um mau sujeito, mas vemos que ele é incapaz de controlar seu temperamento, o que dificulta sua relação com os outros. Sua atitude de deixar o oponente bater nele é menos uma decisão estratégica e mais uma vontade de testar seus limites ou, como fica evidente na luta que ocorre após a tragédia, de se punir.

A tragédia, aliás, é um dos poucos momentos de surpresa. Apesar de constar nos trailers (o que é uma pena, já que seria melhor entrar sem nenhum conhecimento dela), quando ela ocorre é verdadeiramente impactante e o diretor Antoine Fuqua (que dirigiu Dia de Treinamento e o recente O Protetor) acerta em não cortar quando uma personagem se fere, mantendo sua câmera nos personagens e nos forçando a presenciar os últimos instantes da personagem enquanto Billy se desespera tentando inutilmente ajudá-la. São cerca de dois minutos de agonia excruciante, pois sabemos o que um significa por outro e ver a vida se esvaindo ao poucos de alguém torna tudo mais doloroso. A direção de Fuqua acerta também no modo como trata as lutas, evidenciando o sangue e os machucados dos lutadores, que inclusive demoram a sarar ao invés de magicamente desaparecerem poucos dias depois, além do uso de câmera em primeira pessoa, nos fazendo experimentar os intensos embates sob os olhos dos lutadores.

Além do já citado ótimo trabalho de Gyllenhaal, Forrest Whitaker também entrega uma boa performance como um treinador que é mais preocupado em educar seus alunos e mantê-los longe das ruas do que com títulos. Por outro lado, o boxeador rival de Billy é um sujeito completamente desprovido de qualquer escrúpulo, mas o filme pesa tanto a mão em nos convencer de que ele é um babaca desagradável que se torna caricato. O mesmo pode ser dito do empresário desonesto vivido pelo rapper 50 Cent, que não passa de uma aborrecida paródia de Don King, nem um pouco diferente de outros empresários desonestos do boxe que vimos em produtos similares.

Nocaute é uma combinação de vários elementos que já vimos em outros filmes de boxe, mas a entrega de Jake Gyllenhaal em seu papel e a direção de Antoine Fuqua acabam fazendo as coisas funcionarem.

Nota: 6/10

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