segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Crítica - Operação Big Hero

Análise Operação Big Hero

Review Operação Big HeroEm geral, narrativas voltadas para o público infantil apresentam algum tipo de construção moral ou ensinamento para preparar as crianças para a vida e ensiná-las algo sobre os problemas e desafios que irão encontrar. Por trás de sua fachada de super-heróis e aventura, o que esta animação Operação Big Hero fundamentalmente traz é uma narrativa sobre luto e como é difícil lidar com a perda de alguém próximo a nós, uma experiência que cedo ou tarde todos experimentam.

Na trama, Hiro Hamada é um garoto prodígio que passa seu tempo desenvolvendo robôs para lutar em competições, mas seu irmão Tadashi acha que ele poderia fazer algo mais construtivo com sua inteligência e o estimula a entrar para a universidade. Quando seu irmão morre em um suspeito incêndio no laboratório da universidade, Hiro precisará descobrir o que houve e lidar com sua perda, para isso terá ajuda do robô Baymax. Criado por seu irmão como uma espécie de robô médico, o rechonchudo construto se devota a ajudar Hiro a superar seu trauma, mesmo que isso implique em enfrentar a figura sinistra que está por trás de tudo.

Como já mencionei, o filme é mais sobre um garoto tentando lidar com a ausência do seu irmão do que uma típica narrativa de aventura e nesse sentido o filme se beneficia por uma construção sensível e cuidadosa do luto do personagem e o desenvolvimento de sua relação com o robô Baymax. O robô, por sinal, é um personagem adorável, com seu visual rechonchudo e atitude carinhosa fica claro o genuíno afeto que se estabelece entre ele e Hiro. Isso, no entanto, não significa que o filme seja demasiadamente lento ou parado, na verdade ele consegue dosar muito bem o drama e a aventura.

O filme se beneficia por evitar maniqueísmos fáceis ao dar uma motivação bastante razoável ao antagonista (não consigo pensar nele como vilão) cujas razões para fazer o que faz são bastante compreensíveis e se relacionam diretamente com o tema do luto que reverbera por todo o filme. Conforme o filme avança vemos que ele e Hiro são dois lados da mesma moeda e que o jovem poderia facilmente ter trilhado um caminho mais sombrio não fosse Baymax ou seus amigos. Os coadjuvantes, por sinal, possuem personalidades bem definidas, mas não tem muito espaço para se desenvolverem para além de companheiros de batalha ou alívios cômicos.

O ponto fraco fica por conta de uma reviravolta no final que traz de volta uma personagem que tínhamos certeza de sua morte, o que parece uma resolução fácil demais e covardemente apaziguadora. Afinal, o tema central da obra é que inevitavelmente perderemos as pessoas próximas a nós e de algum modo precisamos aceitar a perda, superar a dor e seguir em frente e trazer alguém de volta dos mortos vai na contramão da retórica do filme até então. Na vida real, ninguém volta da morte, perdas são definitivas e cedo ou tarde os jovens estarão diante de algo parecido e precisarão lidar com isso. Posso parecer demasiadamente duro, já que se trata de um filme infantil, mas o que achariam se a mãe do Bambi ou o pai do Simba reaparecessem vivos ao fim de Bambi (1942) ou o O Rei Leão (1942)? Não faria o menor sentido, já que é a ausência dessas figuras próximas que tornam os personagens quem eles são.

Visualmente a animação é muito bem realizada, a cidade futurística de São Fransokyo consegue ser fantástica e ao mesmo tempo crível, além de mesclar muito bem elementos e influências da arquitetura e geografia das duas cidades que a inspiram (se o nome não deixa claro, são Tóquio e São Francisco). As cenas de ação são movimentadas e empolgantes, explorando bem as possibilidades criativas dos poderes dos personagens. O uso do 3D, embora não chegue a atrapalhar, é totalmente dispensável e não acrescenta nada à experiência.

Assim sendo, este Operação Big Hero é uma divertida, movimentada e tocante aventura que consegue dosar muito bem a ação e o desenvolvimento de seu protagonista.

Nota: 8/10


Obs: Há uma divertida cena após os créditos

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