quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Crítica - As Tartarugas Ninja

Review As Tartarugas NinjaCom o anúncio de que o execrável Michael Bay produziria uma nova versão das Tartarugas Ninja para os cinemas e que esta seria dirigida pelo medíocre Jonathan Liebsman (dos horrendos Fúria de Titãs 2 e Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles), fãs ficaram temerosos que seu amado universo fosse ser destruído por esses dois “talentos”. A verdade é que embora não seja o completo desastre que se imaginava que seria, o filme ainda tem uma grande parcela de problemas.

Na trama, April O’Neal (Megan Fox) é uma jovem repórter que quer ser levada a sério na emissora em que trabalha. Quando um grupo criminoso chamado Clã do Pé começa a aterrorizar a cidade, ela resolve investigar os crimes para tentar subir na carreira, mas acaba topando com as quatro tartarugas mutantes ninjas Leonardo (voz de Johnny Knoxville), Michelangelo (Noel Fischer), Donatello (Jeremy Howard) e Raphael (Alan Ritchson). Os quelônios passaram a vida nos esgotos, sendo treinados por Splinter (voz de Tony Shalhoub) e fazem April se lembrar de coisas esquecidas de sua infância, em especial o trabalho científico de seu falecido pai para o bilionário industrial Eric Sacks (William Fichtner) que podem ter ligação com as tartarugas.

O grande acerto do filme são as personalidades dos quatro protagonistas e a química genuína e divertida que se estabelece entre eles. Mesmo estando afastado dos personagens há um bom tempo, eles soam exatamente como eu me lembrava. Leonardo é o estoico e racional líder, Michelangelo é brincalhão e relaxado, Donatello é inteligente e fala difícil e Raphael é esquentado e mau humorado. Além disso, acerta também na relação paternal entre eles e Splinter. Obviamente, os efeitos que dão vida a todos eles são incrivelmente eficientes e nos fazem acreditar na existência dessas criaturas.

Uma pena, portanto, que os personagens humanos não tenham o mesmo cuidado. April se limita a um papel expositivo e tem muito pouco a fazer. O habitualmente carismático e competente em compor vilões William Fichtner parece atuar no piloto automático na pele do genérico empresário inescrupuloso Eric Sacks.

Enquanto o filme nos deixa boa parte do tempo na presença de um vilão tão desinteressante, o Destruidor fica relegado a segundo plano, sendo apenas uma ameaça física para as tartarugas e se o design da armadura inicialmente impõe respeito, assim que ele revela seus “braços de canivete” torna-se uma figura exagerada e ridícula. Lamentável, já que o Destruidor sempre foi um antagonista interessante, mesmo no pueril desenho dos anos 80/90.

As cenas de ação são boas, empolgantes e apesar de rápidas é sempre possível entender muito bem o que acontece, a exceção talvez seja o ataque do Clã do Pé aos esgotos, que tem uma mise en scene um pouco bagunçada. O destaque fica por conta da movimentada perseguição montanha abaixo.

O filme tem também sua parcela de problemas roteiro. Sei que não dá para exigir uma complexidade shakespeariana de filme sobre répteis mutantes, mas ainda assim tem problemas que saltam aos olhos, mesmo sob uma apreciação despretensiosa. Um deles é a necessidade da trama em tentar conectar todos os personagens o tempo todo, levando a história a se desenvolver por uma sucessão de meras coincidências, como o fato de ter sido justamente o pai de April (que encontrou as tartarugas por acaso) que criou os mutantes e por coincidência fez isso trabalhando pelo vilão.

Além disso, o plano final de Sacks é simplesmente imbecil. Se o mutagene é capaz de curar doenças e regenerar células, ele não precisaria de um ataque biológico para ganhar dinheiro usando-o como antidoto, ele poderia ficar rico simplesmente vendendo-o como cura para o câncer, a AIDS, Alzheimer ou então vender a tecnologia para o exército e criar soldados com capacidades regenerativas ou mutantes. Enfim, o vilão poderia fazer qualquer coisa com seu invento e poderia ganhar rios de dinheiro sem precisar se arriscar em forjar um atentado terrorista.

Outro problema é que o filme tem dificuldade em estabelecer seu próprio tom. Por um lado seus protagonistas são quatro irmãos adolescentes que estão sempre tirando sarro um do outro, por outro há a tentativa de levar tudo muito a sério e criar uma atmosfera e tensão que simplesmente não combina com a natureza despretensiosa e muitas vezes cômica das tartarugas. Um exemplo disso é a música que é demasiadamente solene e intrusiva, pesando a mão no drama em muitos momentos.

Nesses momentos em que o filme tenta se levar a sério, acaba entrando diretamente em conflito com os momentos bem humorados dos personagens, como ocorre no clímax, onde o filme que estabelecer tensão e urgência, mas nos mostra as tartarugas fazendo beatbox no elevador e ao invés de rir, simplesmente achei esquisito inserir humor naquele momento.

As Tartarugas Ninja pode não ser o enorme desastre que se esperava, mas ainda assim tem problemas demais para ir além de um entretenimento despretensioso e descartável.


Nota: 5/10

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